Lua

Calma, ela pegou os doces que estavam sobre a mesa e os levou à boca. Estava linda. Digo, ela, descabelada e chateada com a situação de ontem à noite, ainda teve a fineza de levar à boca um punhado de açúcar. Olhei de soslaio. Parecia que presenciava algo inédito. Uma verdadeira demonstração do quanto o universo pode ser inesperado. "Vai, deixa disso e vem pra cá", ela gritou de longe. Eu ri e disse estar lendo. Ela franziu o rosto como uma gatinha fazendo manha. Sorri. Levantei. Estava lendo Camus, mas ela, naquele momento, era bem mais interessante. Com uma das minhas camisas, estava com um hálito de café-com-leite-e-canela. Respirava dois jeitos de desejo bem espaçados; na algibeira, um cigarro sujo de batom. "Anda guardando bituca, é?"; "Claro que não. Isso aqui é como um beijo: pode te matar, mas eu guardo como lembrança do porquê ainda estou viva."

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