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Carmim

eu sei que teu cabelo encoberta o assalto que fizeram ao banco central naquele dia, eu estivera acovardado pelos saguões, levantaram, sem titubear, arguições sem medo, tiros feitos de licor bravio, e algumas pessoas, que ali passavam, sentiram um amanhã que jamais tocaria o chão não sei se você pôde perceber, mas nada foi como ontem e nunca mais será como amanhã cada assalto a mão armada tirou de mim sorrisos complacentes vivitudes sem nexos e alguns ladrilhos de tentação.

Luanete

despontou no horizonte uma saia com diamantes cor de jasmim um par de vestir os pés untados com requinte e um veste-preto carpado de nuvens às laterais as pernas presas pelo temor de irem feitas da maior tensão por vir haviam, como antes, iludido a noite com brilho igual manhã dos lábios serrados, a escama do pudor retido, o licor quem nunca viu, viva alma, tamanha perfeição há de ter os olhos indispostos ou contrito seu coração.

Isabel

isabel, dessa vez não tem como acabamos de batizar nosso passado ele sempre existirá por favor, dessa vez eu preciso ir não tenho campo algum nessa sua imensidão eu não consigo te acolher e essa é a única coisa que posso fazer.

Carinho

nunca entendi esse teu jeito de me fazer carinho. parece uma prece. como que faz isso. ah, só faz. faz sem medo de ser rejeitado, sabe. tipo quando chamam a gente, só que não era ninguém. não. isso aí é assombração.

Eu

houve um tempo em que me acreditei isento um par aurora dos sem iguais que já cruzaram meu caminho nesse tempo, como tempestade, vi-me enfeito do mais inevitável olor que já pousara sobre o dia passo a passo, as notas indigestas desse caminho foram acorrentando meu sono ferindo meus olhos e sagrando furor onde nunca existiu santidade das minhas verdades, as maiores: sexo é um timoneiro bêbado que vaga pela neblina amor é um cajado solitário esperando companhia se um dia eu for menos eu, do que sou agora existirá, na alvorada dos meus sonhos mais vivos, um breve resquício de todos os meus outros eus dos quais nunca tive coragem de ser? e você, que me lê, a gramática ainda te aquece?

Pomodoro

não vai. me acomoda no teu peito. faz, dentro de mim, a espiral desse nosso medo. acode o meu assomo, como imploro pelo teu desejo. não vai. deixa, na minha casa, uma roupa tua, um cheiro teu, uma lembrança. não vai. me aceita como nosso. me retorce feito roupa. me desmonta feito uva. não vai. e se for, antes de dobrar a esquina, acena. só pra eu saber que é verdade.

Deserto

antevi o sábado de qualquer forma entre as mechas do teu cabelo cor de noite em uma salsa de piscadelas e risos mundos de silêncio entre passos seus naus de ondas mercantes repletas de escândalos foi ali que nunca te esqueci.