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Vermelho

uma trupe de meio-mundos aportou no cais no convés, erguido ante sussuros envaidecidos, havia um vermelho cor de sangue ungido pela neblina avistei-o de longe, ressequido, turvo, complacente ou não? tumir, como disse antes, o licor feérico daquele instante sem titubeios ou convalescenças sem frenezi ou amor de mãe do vermelho distante, o brilho ao fundo, vi-a ergue-se como luz finda à escuridão olhos de carmin, pele de algodão na cintura, o punhal nas mãos, o licor como nunca antes, nas tantas desventuras na contramão do mundo em linha reta, fitei-a cobrime-me de medos lábios cerrados cor de encarnado, os lábios teus cigana!, gritei em baixo do travesseiro

Querida

Estou ouvindo aquela canção de segunda-feira. Antes, fiz dois dedos de chá. Bebi com dois navios. Acordei ainda pouco, melancólico como friozinho da tarde. Mencionei sair, mas tropecei naquele montinho. Por ocasião, refiz as horas e luzi metade do tempo como um arco dourado e límpido. Agora, as coisas estão onde deveriam estar. Sentado, aprecio a movimentação e os gestos, aqueles dilemas no sinal de trânsito e o sorvete que topou com o chão em tão densa escadaria. Parece que estamos relâmpago nas coisas. É tudo tão rápido, ainda que estrondoso minutos depois. “Onde queres um lar, revolução”, disse o Caetano. Dizemos algo hoje? Vestimos de que medo nossas coragens? Por onde passeiam as estradas do tempo? Passei o dia tentando encontrar respostas para problemas de lógica. Decidi que não é possível inventar o mundo. Talvez já tenham inventado um antes de mim. Pensei no amor, que acredito ser qualquer coisa menos um balão vermelho. O caminhante, o amor caminha porque não há caminho.

Carmim

eu sei que teu cabelo encoberta o assalto que fizeram ao banco central naquele dia, eu estivera acovardado pelos saguões, levantaram, sem titubear, arguições sem medo, tiros feitos de licor bravio, e algumas pessoas, que ali passavam, sentiram um amanhã que jamais tocaria o chão não sei se você pôde perceber, mas nada foi como ontem e nunca mais será como amanhã cada assalto a mão armada tirou de mim sorrisos complacentes vivitudes sem nexos e alguns ladrilhos de tentação.

Luanete

despontou no horizonte uma saia com diamantes cor de jasmim um par de vestir os pés untados com requinte e um veste-preto carpado de nuvens às laterais as pernas presas pelo temor de irem feitas da maior tensão por vir haviam, como antes, iludido a noite com brilho igual manhã dos lábios serrados, a escama do pudor retido, o licor quem nunca viu, viva alma, tamanha perfeição há de ter os olhos indispostos ou contrito seu coração.

Isabel

isabel, dessa vez não tem como acabamos de batizar nosso passado ele sempre existirá por favor, dessa vez eu preciso ir não tenho campo algum nessa sua imensidão eu não consigo te acolher e essa é a única coisa que posso fazer.

Carinho

nunca entendi esse teu jeito de me fazer carinho. parece uma prece. como que faz isso. ah, só faz. faz sem medo de ser rejeitado, sabe. tipo quando chamam a gente, só que não era ninguém. não. isso aí é assombração.

Eu

houve um tempo em que me acreditei isento um par aurora dos sem iguais que já cruzaram meu caminho nesse tempo, como tempestade, vi-me enfeito do mais inevitável olor que já pousara sobre o dia passo a passo, as notas indigestas desse caminho foram acorrentando meu sono ferindo meus olhos e sagrando furor onde nunca existiu santidade das minhas verdades, as maiores: sexo é um timoneiro bêbado que vaga pela neblina amor é um cajado solitário esperando companhia se um dia eu for menos eu, do que sou agora existirá, na alvorada dos meus sonhos mais vivos, um breve resquício de todos os meus outros eus dos quais nunca tive coragem de ser? e você, que me lê, a gramática ainda te aquece?